(Foto retirada do google) |
Como já devem ter percebido, sou
um apaixonado pelo continente africano, principalmente pelo sítio onde vivi
durante vários anos, entre matas e savanas em Angola. Facilmente
familiarizei-me com os negros.
Muitas histórias aconteciam,
naquelas matas e savanas que se encontravam a 50 km. de distancia da Cidade. Os
negros, meus colegas e amigos, tudo comigo compartilhavam.
O elo que nos unia era tão forte
que levou, a nós jovens, com idades compreendidas entre os 14 e os 20 anos,
cantar, sem medo, a canção do nosso líder político «Comandante “Che Guevara”».
Para nós, ele era o maior, naquela altura, pois hoje não penso assim!
Originário da Argentina, formado em medicina, integrou-se no grupo de revolucionários
exilados que desembarcou em Cuba, em 1956. Fez depois parte do governo impondo
a sua ideologia comunista. Promoveu a guerrilha na Bolívia, onde foi executado
em 1967, tinha eu 15 anos. Ficamos tristes, muito tristes. Por lá, em Angola,
também tínhamos a PIDE-DGS mas não nos intimidávamos. Éramos livres. Mas,
existia de facto uma coisa que nos revoltava! Um dia, já em 1974, o Dr. Jonas
Savimbi, nosso líder e presidente do nosso partido, disse, num comício no
Huambo: -“Irmão, o nosso combate nunca foi contra a etnia branca, mas sim
contra o governo colonial e o imperialismo! Combatemos a tropa portuguesa
porque defendem a colonização de Angola por Portugal! O branco civil tem vivido
de mãos dadas connosco! O grande problema é a tropa que vem de Portugal!..”.
Sem dúvida, a tropa que ia de Portugal, na sua maioria, pelo menos na zona onde
vivi, Amboim - Cuanza Sul, eram homens com má formação, desumanos e com falta
de escrúpulos! Cheguei a ver, muita vez, quando eles apareciam lá no mato,
junto das Senzalas (aldeias) dos negros, onde eu também vivia, armados com G3 e
HK’s, o cinturão cheio de balas e algumas granadas penduradas, saltavam do JEEP
e os negros da Senzala (aldeia), com o medo assistiam ao roubo, de seus
pertences, que esses militares lhes faziam. Roubavam-lhes cabritos, leitões,
galinhas, cachos de banas e ananases. Enchiam o JEEP e lá seguiam para o
quartel, que se situava na Cidade (Gabela), para as suas patuscadas. Nós,
temíamo-los e no fim de se afastarem ficávamos revoltados. Aquelas cenas
ficaram marcadas na minha memória de tal forma que cheguei a sentir raiva de
mim próprio por ser de raça branca. Ainda há pouco tempo tive este desabafo com
uns amigos meus, de Soure, e que cumpriram lá tropa, e confirmaram esta
realidade.
O Dr. Savimbi disse, ainda
naquele comício: -“Irmãos, a exploração feita pelo homem ao homem não é um
problema dos brancos para com os negros! Não… estudei em Portugal e constatei
que lá existe muito mais exploração de patrões para com o trabalhador!”.
Quando cheguei a Portugal ouvi
muita vez dizer que nós roubávamos os pretos! Eu que sou branco, mas como me
sinto na pele dos negros, tenho que dizer que é mentira, é falso! Homem branco
ou preto, civis, ninguém roubava nada a ninguém! A tropa portuguesa, ida de Portugal,
sim, eles é que roubavam os negros e até, pelo meio do medo que faziam sentir,
e com a intimidação, chegavam a fazer sexo com as filhas ou irmãs dos meus
amigos negros, logo ali dentro de uma cabana! Lamento...
Era revoltante e esta é a mais
pura realidade do que se passava em Angola. A guerra durou mais tempo porque os
capitães e comandantes davam apoio logístico aos guerrilheiros apoiados por
Cuba e União Soviética. Pois interessava-lhes a continuidade daquela guerra
visto que usufruíam de altas regalias em relação aos seus camaradas em
Portugal. Sou uma pura testemunha de toda a realidade que se passava em Angola
desde Janeiro de 1962 até Setembro de 1975. Os ladrões, tal como em Portugal
diziam de quem lá vivia, eram a tropa que ia de Portugal. Quando, alguns
chegaram a dizer há pouco tempo num canal televisivo que: “vieram de lá com
perturbações mentais”! Eu acho que, quando para lá foram, estes soldados, a
maioria deles já sofriam de perturbações mentais e, como tal, o governo português
mandava-os para lá!... Lamento!
Sem comentários:
Enviar um comentário