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quarta-feira, 17 de março de 2010

INTIMIDADOS PELAS ARMAS (aquilo que meus olhos viram)


(Foto retirada do google)
Como já devem ter percebido, sou um apaixonado pelo continente africano, principalmente pelo sítio onde vivi durante vários anos, entre matas e savanas em Angola. Facilmente familiarizei-me com os negros.
Muitas histórias aconteciam, naquelas matas e savanas que se encontravam a 50 km. de distancia da Cidade. Os negros, meus colegas e amigos, tudo comigo compartilhavam.
O elo que nos unia era tão forte que levou, a nós jovens, com idades compreendidas entre os 14 e os 20 anos, cantar, sem medo, a canção do nosso líder político «Comandante “Che Guevara”». Para nós, ele era o maior, naquela altura, pois hoje não penso assim! Originário da Argentina, formado em medicina, integrou-se no grupo de revolucionários exilados que desembarcou em Cuba, em 1956. Fez depois parte do governo impondo a sua ideologia comunista. Promoveu a guerrilha na Bolívia, onde foi executado em 1967, tinha eu 15 anos. Ficamos tristes, muito tristes. Por lá, em Angola, também tínhamos a PIDE-DGS mas não nos intimidávamos. Éramos livres. Mas, existia de facto uma coisa que nos revoltava! Um dia, já em 1974, o Dr. Jonas Savimbi, nosso líder e presidente do nosso partido, disse, num comício no Huambo: -“Irmão, o nosso combate nunca foi contra a etnia branca, mas sim contra o governo colonial e o imperialismo! Combatemos a tropa portuguesa porque defendem a colonização de Angola por Portugal! O branco civil tem vivido de mãos dadas connosco! O grande problema é a tropa que vem de Portugal!..”. Sem dúvida, a tropa que ia de Portugal, na sua maioria, pelo menos na zona onde vivi, Amboim - Cuanza Sul, eram homens com má formação, desumanos e com falta de escrúpulos! Cheguei a ver, muita vez, quando eles apareciam lá no mato, junto das Senzalas (aldeias) dos negros, onde eu também vivia, armados com G3 e HK’s, o cinturão cheio de balas e algumas granadas penduradas, saltavam do JEEP e os negros da Senzala (aldeia), com o medo assistiam ao roubo, de seus pertences, que esses militares lhes faziam. Roubavam-lhes cabritos, leitões, galinhas, cachos de banas e ananases. Enchiam o JEEP e lá seguiam para o quartel, que se situava na Cidade (Gabela), para as suas patuscadas. Nós, temíamo-los e no fim de se afastarem ficávamos revoltados. Aquelas cenas ficaram marcadas na minha memória de tal forma que cheguei a sentir raiva de mim próprio por ser de raça branca. Ainda há pouco tempo tive este desabafo com uns amigos meus, de Soure, e que cumpriram lá tropa, e confirmaram esta realidade.
O Dr. Savimbi disse, ainda naquele comício: -“Irmãos, a exploração feita pelo homem ao homem não é um problema dos brancos para com os negros! Não… estudei em Portugal e constatei que lá existe muito mais exploração de patrões para com o trabalhador!”.
Quando cheguei a Portugal ouvi muita vez dizer que nós roubávamos os pretos! Eu que sou branco, mas como me sinto na pele dos negros, tenho que dizer que é mentira, é falso! Homem branco ou preto, civis, ninguém roubava nada a ninguém! A tropa portuguesa, ida de Portugal, sim, eles é que roubavam os negros e até, pelo meio do medo que faziam sentir, e com a intimidação, chegavam a fazer sexo com as filhas ou irmãs dos meus amigos negros, logo ali dentro de uma cabana! Lamento...


Era revoltante e esta é a mais pura realidade do que se passava em Angola. A guerra durou mais tempo porque os capitães e comandantes davam apoio logístico aos guerrilheiros apoiados por Cuba e União Soviética. Pois interessava-lhes a continuidade daquela guerra visto que usufruíam de altas regalias em relação aos seus camaradas em Portugal. Sou uma pura testemunha de toda a realidade que se passava em Angola desde Janeiro de 1962 até Setembro de 1975. Os ladrões, tal como em Portugal diziam de quem lá vivia, eram a tropa que ia de Portugal. Quando, alguns chegaram a dizer há pouco tempo num canal televisivo que: “vieram de lá com perturbações mentais”! Eu acho que, quando para lá foram, estes soldados, a maioria deles já sofriam de perturbações mentais e, como tal, o governo português mandava-os para lá!... Lamento!

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