Estes são os Blogues dos que amam Angola

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Musica

quarta-feira, 31 de março de 2010

Cubata, a musica que ainda hoje canto


A CUBATA

Cuidado com essa brincadeira
Se você partir a cubata,
Mulata vai ficar zangada
Se você partir a cubata.

Aquela cubata toda feita de lata
Foi a Mulata, foi quem fez,
Quando chegar o Carnaval
Ela vai tocar batuque na cubata de lata.


Mulata, vai ficar zangada
Vai ficar zangada se partir a cubata, vai...
Quando chegar o carnaval
Ela vai tocar batuque na cubata e lata, sim...

Autor: Angolano desconhecido
Nota: esta é a letra de uma das mais belas músicas angolanas dos anos 60

terça-feira, 30 de março de 2010

A NOSSA LIBERDADE NA SELVA


Durante os catorze anos que ali permaneci, conheci e senti a maior das maiores liberdades. Nós éramos livres como todos os seres vivos da floresta ou da savana. Quando cheguei a Portugal a liberdade acabou.
Naquele lugar, ninguém precisava de se preocupar com impostos, com a porcaria do relógio, com o trânsito, com a procura de dinheiro, com os ladrões ou com os assassinos! Não! O relógio era o Sol e os dias eram maiores, havia tempo para tudo.
As leis eram ditadas pelo “Soba”, «Chefe dos aldeões», que eram formadas em sintonia com a Natureza da selva.
Vivi no paraíso da pura liberdade, onde reinava o humanismo, a humildade, a benevolência e a compreensão.
Liberdade só a conheci enquanto vivi naquelas savanas e selvas Angolanas.
Éramos livres e formávamos uma corrente, de elos fortes, em que todos juntos cantávamos várias canções.
Só a guerra quebrou estes elos e nos separou, quem sabe, para sempre. Deles nada sei! Não sei se faleceram, se estão no mesmo sítio, se já são avós ou, se também fugiram. A melhor coisa que me poderia acontecer na vida, seria voltar aquele lugar, ver tudo e abraçar todos os que me viram crescer e que sabiam que eu era branco por fora mas negro por dentro.

Com muito carinho a todas as mães de Angola.


MÃE NEGRA

As mulheres de toda Angola
No dorso levam seus filhos,
À cabeça seguram vasilhas
Ou vão sachando os seus milhos.

Por entre a floresta
Mãe negra procura lenha,
Vários frutos trás com ela
E na boca sua “Macanha”.

Com pequeno sacho mexe a terra
E a mandioca vai plantando,
Depois volta para casa
E numa fogueira vai cozinhando.

Faz calúlú com quiabos
Ou “muamba” de Galinha,
Com pirão de mandioca
Ou de milho, fina farinha.

Não vive com complexos
É uma mulher especial,
Os peitos e as coxas ao léu
Tudo nela é natural.

Mulher de etnia Kwanhamas. Sul de Angola. Esta é a mais antiga etnia de toda a África, onde a maioria vivem completamente nus. A riqueza de cada família é notada pela quantidade de pulseiras que vão colocando nos pés.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Quilenda - Amboim -Cuanza Sul




Quilenda ou Kilenda é uma vila e município de Angola, na província de Cuanza Sul.
Tem 1 604 km² e cerca de 79 mil habitantes. É limitado a Norte pelo município da Quiçama, a Este pelos municípios de Quibala e Ebo, a Sul pelo município do Amboim, e a Oeste pelo município de Porto Amboim. É constituído pelas comunas de Quilenda e Quirimbo.
O município foi criado em 1965.

Nos anos 60, do Século passado, o meu tio Crlos, irmão do meu pai tinha ali uma Chitaca (Fazenda) e no centro uma pequena mercearia. Eu adorava ficar por lá, quando era possivel, pois tinha o filho mais novo que andava ali na escola e de tarde ia-mos para a chitaca ver as máquinas, com grandes correias, que ligadas a um tractor fazia rolar uma maquinaria dentro do armazem a pilar o café e separar o grão. A Quilenda é um dos locais do Amboim que me deixa saudades, assim como todo o Amboim.
Os 43 quilómetros da estrada entre a cidade da Gabela e a sede municipal da Quilenda, na província do Kwanza-Sul, estão a receber obras de reabilitação, no quadro de um programa local de melhoria das vias inter-municipais.
A obra está orçada em um milhão de dólares e contempla trabalhos de desmatação, terraplenagem e alargamento de bermas.
O governador provincial do Kwanza-Sul, Serafim do Prado, disse que a reabilitação do troço vai contribuir para o aumento de investimentos e desenvolvimento socioeconómico e produtivo da região.
Serafim do Prado acrescentou que a recuperação da via vai permitir que muitos investimentos possam ser executados no município, tendo em conta o seu potencial agrícola, turístico e madeireiro.
“É preciso que o município da Quilenda não se dissocie dos demais, por isso a reabilitação do troço é urgente”, frisou Serafim do Prado.
O governador anunciou a reabilitação do troço Cachoeiras/Conda, numa extensão de cerca de 20 quilómetros.
Para a administradora municipal da Quilenda, Maria Monteiro, a empreitada vai permitir o escoamento dos produtos do campo para a cidade, visto que as viaturas circularão com maior segurança.
"Com a estrada em bom estado teremos uma maior quantidade de investimentos no município", disse a administradora.
O município da Quilenda está localizado a 120 quilómetros a norte da cidade do Sumbe (capital da província) e possui uma população estimada em 50 mil habitantes, maioritariamente camponeses. Como vemos, e pelas fotos que tenho recebido de amigos que por lá circulam, o Amboim está crescer a bom ritimo. Que bom que assim seija, o povo merece.

Quando cheguei a Angola













Gabela, cidade maravilhosa nos anos 60

Ao chegar a Luanda estava, á nossa espera, o meu pai que o já não via á 4 anos. Eu, a minha mãe e uma das minhas irmãs, seguimos na cabine de um camião, uma velha Scania, que fazia transportes de mercadorias entre a cidade da Gabéla e Luanda. O meu pai seguiu com as outras irmãs, num carro ligeiro. Passámos uma tarde e uma noite, sempre a andar, por estrada de terra batida, entre a selva e savanas, numa distância de quatrocentos quilómetros.
Quando tínhamos percorrido cerca de cento e cinquenta quilómetros, na zona do Dondo, o choufer, parou o camião na berma da estrada, por entre a floresta densa, para verificar a carga, e logo percebeu que duas malas que vinham em cima da carga tinham desaparecido. Deixou-nos, ali naquele deserto de floresta africana, acompanhados por dois ajudantes de raça negra. Apanhou boleia e seguiu para Luanda à procura das malas.
Nesse momento, tememos pela nossa vida, sentimo-nos entre a vida e a morte. Nunca tínhamos visto nem contactado com negros, e logo no primeiro dia em que pisamos solo angolano, fomos abandonados dentro da selva, de noite e junto de homens da raça daqueles que o meu pai meses antes, quando escreveu à minha mãe contava, e ouvíamos na rádio dizer que “se revoltaram e esquartejavam todos os brancos”.
Nós tremíamos de medo, e nem sequer sabíamos que aquele local, (do Dondo), estava inserido na zona dos ataques do UPA.
Já noite escura, vimos dentro da floresta, uns pirilampos, mas nós, que estávamos no início de 1962, e que tínhamos ouvido falar dos ataques de Fevereiro de 1961,que continuavam em grande escala, feitos pelos revoltosos no Norte de Angola contra todos os fazendeiros e trabalhadores dessas fazendas, temíamos que aquelas luzes não fossem de pirilampos mas sim dos revoltosos.
Os terroristas do UPA (União Popular de Angola) liderada pelo Lombumba, esquartejavam todos à catana ou com uma moca na cabeça e as crianças eram atiradas contra uma parede.
Era o terror desde o Distrito de Luanda até ao Cuanza Norte.
Muita gente, ali, foi chacinada.
Quem não aderisse ao UPA só tinha duas hipóteses: morrer ou fugir para Luanda e deixar tudo para trás.
A UPA era um movimento Macongo Ligado ao Congo. As populações eram obrigadas a ser evacuadas do Norte para Luanda, em aviões. Os negros dividiam-se entre a fidelidade aos colonos e os guerrilheiros. De início, durante essa evacuação, deu-se a vez às mulheres e crianças, todavia centenas tinham já sucumbido. Os maridos e pais dos que partiam ainda ficavam, juntamente com negros afectos ao patrão ou os Bailundos que
eram trabalhadores e afectos aos brancos, que eram de uma etnia rival aos que compunham a UPA.
Mas, tal como eu dizia, ao vermos os pirilampos tremíamos de medo daquelas aparições e temíamos que fosse algo pior.
Durante o tempo que ali permanecemos, vimos passar, atravessando a estrada, vários tipos de animais da selva africana.
Quatro horas mais tarde, o choufer apareceu e lá seguimos viagem.
Passado algum tempo, finalmente chegámos à cidade da Gabéla.
Quando chegámos à casa onde vivia o meu pai, colocámos lá as nossas coisas e depois ele levou-nos a uma casa feita de pau e coberta com ramagem de palmeira,

e qual não foi a nossa grande surpresa e admiração, quando ao olharmos para o tecto dessa barraca vimos dezenas de grandes cachos de bananas maduras ali penduradas.
Foi comer até fartar!
Lá ficamos a viver, numa fazenda de café, entre grandes árvores centenárias, entre os morros do Amboim, Cuanza Sul, perto das belas cachoeiras (quedas de água) onde o ar e as águas eram puras e os únicos barulhos que se ouviam eram os cantares dos belos pássaros que nidificavam por entre a ramagem das palmeiras, dos banzes, bananeiras, taculas, mulembas e cafeeiros.
Aquela era uma zona de muito cacimbo (nevoeiro). Nalgumas manhãs, ele era tão denso que apenas se conseguia vislumbrar o que quer que fosse a uma distância de vinte metros.
Só por volta do meio-dia, quando o Sol rompia víamos aquelas árvores repletas de pombos verdes. Eram tantos que por vezes havia árvores que continham mais pombos do que folhas. Estes viajavam em tão grande velocidade que perante o cacimbo não tinham tempo de parar antes de embaterem contra a nossa casa, que com a sua parede branquinha se confundia com o nevoeiro e acabavam por morrer.
De vez em quando, víamos passar por entre a selva, com plantações de café por baixo de arvoredo de grande porte, um comboio movido a lenha que fazia o trajecto de Porto Amboim à cidade da Gabéla, transportando mercadorias e pessoal. Embora fosse muito lento, este dava uma imagem bonita por entre a selva da montanha, conhecida como “Os morros do Amboim”.
Ali, na fazenda “Quitona” dependência da sede do “Congulo”, estávamos no mato, isolados de toda a civilização, não havia sequer uma escola por perto.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Cubal





O Cubal é uma vila e um município da província de Benguela, em Angola.
Situa-se a 150 km da cidade de Benguela e a 200 km da cidade do Huambo, antiga Nova Lisboa. Tem 4 794 km² e cerca de 252 mil habitantes. Limita a Norte com o município do Bocoio, a Este com o município da Ganda, a Sul com o município de Chongoroi e a Oeste com o município de Caimbambo.
É banhado por um rio que partilha o seu nome, o rio Cubal. À sua volta, existem numerosos campos de cultivo do sisal, que conferem à sua terra um aroma muito particular. Desempenharam um papel importante na economia da região durante o século XX, fornecendo grandes quantidades dessa matéria-prima para exportação.
O Caminho de Ferro de Benguela chegou ao Cubal em 1908. Em 1974, foi concluída a construção de uma nova variante ligando o Cubal à cidade do Lobito, diminuindo a distância entre as duas cidades de 197 km para 153 km. Após muitos anos de interrupção de actividade, esta variante foi reinaugurada em 2004, circulando nela actualmente três comboios por semana.
Conheci esta vila nos anos 70. Para atravessar o rio era uma ponte em madeira. A estrada era rodeada por muita verdura. Hoje, tenho um amigo, em Benguela, o Guy Rodrigues que vai até lá inserido num projecto das ONG’s. Ele, é que me alimenta a alma com informações daquela terra querida.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Gabela (Fotos eviadas por Micoulena em 08/03/2010)








Gabela é uma cidade angolana, sede do município de Amboim, na província do Cuanza-Sul. Foi nos até aos anos 70, uma das mais prósperas terras angolanas.
O café aí produzido chegou a ter títulos do melhor café do mundo.
Hoje foi engolida pela selva. Digna de visita, consequência das suas belas paisagens, entre as quais se salientam as quedas de água, no rio Cuvo, quedas da Binga.

Nesta mesma região encontra-se a Empresa C.A.D.A. Companhia Angolana de Agricultura, grande produtora de café. Sua sede é uma pequena vila chamada Boa Entrada. E as fazendas de Mário Cunha (Congulo, Nova Ereira, Quipungo, etc.). O caminho de ferro do Amboim (C.F.A.),comboio fazia o transporte do café, outras mercadorias e passageiros da cidade da Gabela até Porto Amboim. Na época era de grande importância para a região. Note-se um detalhe interessante, o desnível geografico da região, de 1.000 metros aproximadamente, para o nível do mar. Boa Entrada, vulgo C.A.D.A., actualmente vila fantasma, era a menina dos olhos do Amboim-Gabela. Com as suas vivendas construídas à moda californiana, os seus bairros bem ordenados urbanisticamente: Bairro Residencial para os quadros superiores da empresa; bairro do Galinheiro, do Cassange, do Hospital e da "Sanzala" para os operários... Um clube C.A.D.A. no seio do G.R.D. da Boa Entrada, piscina, cinés, biblioteca, campo de futebol, tiro aos pombos, barragem... Enfim, Boa Entrada era aquele paraíso, à 7 Kms da Gabela, onde se podia viver e morrer sem necessidade de ir à cata de novos céus! Não é por acaso que o Poeta Agostinho Neto lá foi... talvez para aflorar com a sua poderosa pena de escritor os céus ali tão pertinhos! A uma altitude de 1000 mts com relação à Sumbe (litoral e capital da província.) Gabela sem Boa Entrada - C.A.D.A. seria uma cidade sem luz!
Algumas fazendas agrícolas, verdadeiras povoações, são, hoje, motivo de turismo, com o espectáculo deslumbrante do seu café em flor. Bem me lembra delas... a C.A.D.A, Nova Ereira, Congulo, Quipungo, Boa Entrada, CAOP, etc. etc. As localidades; Quilenda, Lundo, Dala-Cachibo, Pombuíge,etc. etc. Na cidade da Gabela havia a Aricanga, Sétima, Zunzua, Catandala, Kipindo, Waku-Kungo, Vista Alegre, Cateco, Cassussua, Conda, Cumbira, Caculo, Bela Vista, Sossegado, Hengue, Ébo etc. Foi aqui que cresci, nas fazendas e sanzalas do Amboim. Ai que saudades.........

PASSEIO DE FÉRIAS



Um dia fui passear
Numa nave espacial,
Para umas férias diferentes
Não sabia onde ficar.

No local mesmo ideal
Foi lá que a nave parou,
Maravilha!... desci logo
Meu coração interrogou.

Que terra linda era aquela
Depressa fiquei sabendo,
Que era Angola afinal
Que um dia me viu crescendo.

Amigos, muitos encontrei
Entre, aquela gente Angolana,
Com eles fiz piqueniques
Onde havia muita banana.

E na hora da partida
Uma lágrima limpei,
O meu lencinho acenei
E bastante eu chorei.

Para onde vai agora?
Na nave me perguntaram,
Leve-me até à Gabéla
Onde tanto me amaram.

Decidi ficar por lá
Nas lindas terras do Amboim,
Todos quando me lá viram
Correram em direcção a mim.

Na hora de seguir viagem
Segui minha intuição,
Mandei parar a nave
No meio daquele sertão.

Terra bela naquele deserto
Com seu povo tão gentil,
Que bela recepção
Estava no mês de Abril.

Quiseram saber de onde vinha
De Portugal, respondi eu,
E ficaram encantados
Por verem quem com eles viveu.

Tudo estava como deixei
Tudo mesmo original,
Fui recebido pelo o povo
Com um abraço fraternal.

Com meus olhos chorando
E com um sorriso encantador,
Mandei chamar aquela negra
Por quem senti muito amor.

Tinha casado e já com filhos
Fiquei muito amargurado,
Virei-me p’ra trás chorando
Com o coração despedaçado.

Depois ela me disse
Que o marido morreu na guerra,
Para eu não me ir embora
E ficar ali com ela.

Pedi autorização ao Soba
Para na aldeia me acolher,
Houve festa de grande pompa
Só parou com o dia a romper.

ESTOU VIVO GRAÇAS AO SAGUE DE UM HOMEM PRETO


Não posso também deixar de mencionar, neste meu blog, que devo a vida a um negro que não conheci:
Certo dia, quando eu tinha 18 anos, inesperadamente senti os meus pulmões a encherem-se de um líquido. Eu, já com falta de ar, tossi e à medida que eu tossia, saía constantemente sangue em grande quantidade, até que desmaiei e fui transportado para o Hospital de Gabéla que distava cinquenta quilómetros daquele local.
Por coincidência ou ironia do destino, quando dei entrada no Hospital, o médico que fazia ali trabalho era o mesmo da tropa. Como naquele tempo não havia sangue empacotado para transfusão, o médico tratou logo de ligar para o quartel e ver se estava lá algum militar com o sangue compatível com o meu. Por acaso, e talvez por força da natureza, nesse dia tinha ficado de castigo no quartel um militar de raça negra. Esse militar tinha o mesmo tipo de sangue que eu: ORh +. Tiraram-lhe duas seringas de sangue e eu fui salvo.
Como vêem, a raça humana não tem cor!
Mas notei, três meses depois, quando saí do Hospital, que algo havia mudado.
É que antes deste acontecimento eu detestava comer tomate, mas a partir dessa altura passei a adorar salada de tomate e quanto mais maduro for o tomate, melhor.
Muita gente dizia: - Quem beber água do Bengo não vai conseguir esquecer e vai sempre sentir saudades de Angola.
Mas eu não fiquei apegado a Angola somente pela água do Bengo, também foi pelo sangue que me fez retornar à vida!
Durante os três meses que permaneci naquele hospital, a minha mãe esteve sempre presente, do meu lado, noite e dia. Se tivesse de morrer, morreria ao lado da minha mãe. “Obrigado mãe!”.
No primeiro mês não me lembro de nada, estive em estado de coma, mas a minha mãe contou, que eu me revoltava com todos, incluindo ela, dizendo-lhes inclusivamente palavrões. Depois de ficar consciente, senti-me a relembrar algo que se passara durante esse mês. Foi como se estivesse sonhando, durante esse tempo, com lugares e coisas que vivi, mas que não eram reais. Passei por lugares onde só mesmo no imaginário da ficção é possível ir. Eram lugares dentro da savana, à beira rio, com variedades de pássaros e animais e belas árvores. Autênticos jardins do Éden, onde brinquei com animais ferozes e tive um lindo romance com uma bonita donzela.
Depois de todo este sofrimento e ao cabo de algum tempo, acabei por melhorar e sair do Hospital.
Assim, retomei a minha vida no meu kimbo, junto dos meus colegas e amigos, dos quais já sentia saudades

A FORMIGA SALALÉ (Térmitas)


Nas savanas, em Angola, havia várias espécies de formigas, das quais vou destacar uma:
A formiga que depois de nascer “criava” asas para as utilizar somente em dez segundos. Era conhecida por “Salalé”. Esta formiga percorria a savana na busca de folhas e derivados, para o seu sustento.
Mas abria na terra autênticas “cidades” que chegavam a atingir uma profundidade de três metros e uma largura de metro e pouco.
A terra era colocada fora por cima da mesma “cidade”, deixando-lhes orifícios por onde entravam. Esse amontoado poderiam atingir mais de dois metros de altura, e formavam-se, nesses locais, centenas deles, de tal forma que, poderíamos compará-los com uma cidade erguida pelo homem, constituída por prédios de trezentos e tal metros de altura.
Lá no fundo, no buraco, faziam corredores em forma de espiral que podiam atingir um percurso de um quilómetro, deixando, de vinte em vinte centímetros um buraco que daria para salas: “galerias”, onde depositavam os alimentos para entrarem em decomposição.
Numa dessas galerias residia uma formiga que era a rainha-mãe. Não se podia mover porque tinha uma grande barriga repleta de ovos.
Só ela é que punha ovos e todos os dias, as outras formigas, tinham que transportar esses ovos e colocá-los nas galerias junto do alimento que, em decomposição já tinha fungo e estava destinado ao aquecimento dos mesmos e a alimentar os recém nascidos.
Após as primeiras chuvas saíam aos milhões e logo depois de terem sido projectadas no ar formavam uma nuvem e 10 segundos depois perdiam as asas e caiam para dias depois voltarem a ser o que são: as que trabalharam para a sua existência.
No entanto, dos milhões, poucas tinham essa sorte, pois ao saírem do fundo da terra, de onde foram geradas, muita passarada sobrevoava aquele lugar e comia-as.
Havia ainda outro contra para aquela formiga: os meus amigos negros, levavam com eles recipientes com tampa e quando as viam sair pelos orifícios do amontoado, apanhavam-nas e/ou metiam-nas aos punhados na boca e comiam-nas, ou levavam esse, recipiente, cheio para casa e fritavam-nas com óleo de palma, servindo assim de conduto para molhar o pirão.
Para além deste, que era considerado, por eles, um dos melhores petiscos, havia outros, como por exemplo, as gordas e grandes larvas que se desenvolviam nos troncos de árvores apodrecidas e/ou por baixo do amontoado de folhas em decomposição, que serviam de alimento a muitos germes da floresta. Estas larvas tinham, mais ou menos, o tamanho de um amendoim com casca e eram brancas. Não as comiam em cru. Fritavam-nas ou assavam-nas, enfiavam-nas num espeto tal como se fosse uma espetada. Eram os seus petiscos, de grande valor nutritivo.

OS PASSAROS


Nas árvores e caniços das bordas dos rios e ribeiros, os pássaros construíam milhares de ninhos. Havia, mesmo, árvores que chegavam a ter mais ninhos do que folhas. Esses ninhos eram construídos por artesãos que o ser humano não tinha capacidade de entender. Como é que um pássaro consegue entrançar tão bem aquela palha (capim)?
Tinham a forma de uma cabaça, ou, de um balão. No topo deixavam-lhe um buraco e era-lhe feito um tubo, com cerca de trinta centímetros, curvo, virado para baixo. Toda a construção era feita de palha (capim) e no seu interior, onde punham os ovos, era colocado algodão ou um material idêntico que era recolhido de uma outra árvore ou da Palmeira.
Eram milhares de filhotes que com os pais produziam sons ao estilo da fauna Africana.
Havia centenas de espécies de pássaros, uns construíam os ninhos nesses ditos arbustos, outros faziam-nos nas Palmeiras, tudo dependia da espécie de pássaro. Havia ainda outros que abriam buracos nos troncos das árvores e lá colocavam os seus ninhos.

PARA TRAZ FICARAM DUAS PAIXÕES


A minha grande e primeira paixão foi por Angola pela qual, ainda hoje continuo apaixonado. A segunda paixão foi por uma miúda de 19 anos, negra, fula, muito bonita que se chamava Conceição e residia perto da nossa casa, era muito limpa, asseada, vestia um quimono e uma tanga embrulhada à sua volta em forma de minissaia deixando expor toda a anca de pele lisa e brilhante, de seios bem erguidos que deixavam qualquer um de cabeça perdida. Quando se sentava junto de mim, desembrulhava a tanga e passava-a à minha volta fazendo com que eu ficasse com o meu nariz encostado entre os dois seios enquanto a minha mão, atrevidamente, percorria as coxas, barriga e seios. Tinha um perfume tão exótico que me levava a viajar entre as nuvens. Tinha-mos ambos cerca de 19 anos.
Como se pode ver, a coisa mais importante do mundo, que é o “amor”, não tem cor. Nós amávamo-nos.

Pisando o milho na confeção de farinha


As mulheres, para fazerem farinha do milho, sentavam-se sobre uma grande laje, de pernas abertas, unindo os pés e entre elas, na laje, colocavam o milho e com um “pilão” (instrumento feito de pedaço de tronco em forma de “L”) iam batendo milhares de vezes até os grãos se transformarem em fubá (farinha fina). Esta farinha também podia ser produzida colocando o milho dentro de um grande almofariz, feito de um tronco de árvore ao qual chamavam, também, de “pilão”.
Com um outro grosso e pesado pau iam pisando vezes sem fim até o milho passar à dita farinha. Com esta farinha era feito o “Funge, pirão”: este consistia em colocar numa panela com água a ferver, a dita farinha, mexendo com um pau espalmado, até ficar uma papa dura à qual se chamava “Fungi” pirão em geral.
Com a mão ou com um garfo, (mas sabia melhor à mão), tirava-se um pedaço de pirão e molhava-se no molho feito com carne ou peixe, misturado ou não com o calúlú

segunda-feira, 22 de março de 2010

UM SONHO NUM DESERTO EXÓTICO





Num deserto exótico Africano
Na noite quente de luar,
Ouço um ribeiro que corre
E a passarada a cantar.

Na tenda real a rapariga
Escrava ajoelha-se aos meus pés,
Sou seu Rei e senhor
Mas benevolente e de boas marés.

Todo o ar está saturado
Do seu exótico perfume,
As carícias que ao macaco dá
Deixam-me cheio de ciúme.

Ela atreve-se a olhar
Nos meus olhos pela primeira vez,
Nossos corações batem, batem
Enquanto descubro sua nudez.

Ela sabe que me pertence
E é a razão do meu viver,
Fazer tudo o que eu lhe pedir
Dar-me amor e muito prazer.

Nesse deserto tão exótico,
Passa-mos toda nossa vida,
Vou desfrutando da felicidade
Dessa mulher que me é querida.

Desta floresta não vou sair
Para sempre cá vou morar,
Deita-te comigo e vem dormir
E que não seja só a sonhar.

sábado, 20 de março de 2010

No Quénia é assim

" África minha", é o titulo de um filme, mas quando vejo imágens, como estas, sinto um aperto tão grande em mim, que dá a impressão que, genéticamente, sou de África. Sem sombra de duvida, África é o mais belo e mais rico continente do mundo.

A SELVA É A MELHOR RIQUEZA QUE DEUS NOS DEU.


Não deixem de ver este filme. Ao verem-no, deixem-se navegar dentro dele e penssem em mim.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Vota: LUISETE MACEDO ARAUJO, O VOTA DA MUDANÇA


Penso que os reais e iniciais ideários da UNITA enquanto movimento de libertação se está a cumprir... exemplo disso é a candidatura de LUISETE MACEDO ARAUJO

Falta apenas a nova bandeira..verdadeiramente angolana e apartidária e faltam as eleições presidenciais e locais ... para que assim o povo angolano seja verdadeiramente um povo que vive em democracia e pluralismo de ideias e em liberdade politica, ideológica e de expressão...

Quando assim fõr a Unita cumpriu-se... Mas antes que a UNITA -movimento armado de libertação de angola - se cumpra é urgente que todos os angolanos percebam anecessidade e a justiça de dar uma sepultura digna a Jonas Malheiros Savimbi , no respeito da sua pessoa e dos seus familiares...assim como de muitos outros que foram tombando antes e depois da dipanda... com razão ou sem ela pouco importa... mas que certamente acreditavam que era o melhor que faziam por Angola... Angola deve-lhes isto e muito mais... e a muitos mais !!!
Eu, como militante da UNITA vivendo em Portugal, tudo farei, para que a mudança se torne numa realidade. O povo de Angola merece, justiça, paz e soloriedade sosial. Angola tem muita riqueza mas, não pode continuar a ser esturquida pelos estrangeiros e pelos corruptus que estão no governo. Os filhos de Angola necessitam de trabalho. Primmeiro á que preparar um futuro promissor onde todos tem direito a serem alguem.


Porque razão gostaria de ser Selvagem?


Logo que cheguei a Angola fui viver, numa fazenda de café, entre grandes árvores centenárias, entre os morros do Amboim, Cuanza Sul, perto das belas cachoeiras (quedas de água) que se situavam entre a Gabela e Novo Redondo, actual “Sumbe”. Ali, o ar e as águas eram puras e os únicos barulhos que se ouviam eram os cantares dos belos pássaros que nidificavam por entre a ramagem das palmeiras, dos banzes, bananeiras, taculas, mulembas e cafeeiros.
Aquela era uma zona de muito cacimbo (nevoeiro). Nalgumas manhãs, ele era tão denso que apenas se conseguia vislumbrar o que quer que fosse a uma distância de vinte metros.
Só por volta do meio-dia, quando o Sol rompia víamos aquelas árvores repletas de pombos verdes. Eram tantos que por vezes havia árvores que continham mais pombos do que folhas. Estes viajavam em tão grande velocidade que perante o cacimbo não tinham tempo de parar antes de embaterem contra a nossa casa, que com a sua parede branquinha se confundia com o nevoeiro e acabavam por morrer.
De vez em quando, víamos passar por entre a selva, com plantações de café por baixo de arvoredo de grande porte, um comboio movido a lenha que fazia o trajecto de Porto Amboim à cidade da Gabéla, transportando mercadorias e pessoal. Embora fosse muito lento, este dava uma imagem bonita por entre a selva da montanha, conhecida como “Os morros do Amboim”.
Ali, na fazenda “Quitona” dependência da sede do “Congulo”, estávamos no mato, isolados de toda a civilização, não havia sequer uma escola por perto.
Ali existiam muitos tipos de animais selvagens. Desde javalis, veados, galinhas do mato até milhares de macacos de várias raças.
Lembro-me que um dia, eu, as minhas irmãs e uns amigos negros, entrámos pela mata adentro e por cima de uma enorme laje, na qual estavam sobrepostas outras grandes pedras com cerca de quarenta metros de altura, vimos um vulto branco que se deslocava constantemente sem sair da laje. Passado pouco tempo, notámos que era um grande macaco, talvez pertencente à família dos chimpanzés e, tal como existem pessoas Albinas, também ele o seria e viveria solitariamente por ter sido expulso do clã.
(Isto foi o que eu deduzi).
Passados mais uns quatro anos o meu pai deixou de trabalhar para esse patrão e foi trabalhar alguns meses por conta de seu irmão (Carlos dos Santos Sousa) na Quilenda, mas logo descobriu, no lugar do Lundo, mais propriamente junto à “sanzala Cananguena” junto ao rio N’hia, numa das savanas angolanas, uma fazenda com cem hectares, de um proprietário, que se encontrava abandonada.
Aí ficámos até Junho 1975, data em que tudo tivemos que abandonar.
Durante os cinco anos que vivi nas fazendas de Mário da Cunha, eu tinha poucos amigos para conviver, mas na Cananguena tudo mudara: havia muitos adolescentes da minha idade: rapazes e raparigas de raça negra. Como sempre fui de fácil acesso à integração nas comunidades onde vivo, também ali não foi excepção.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Para a UNITA o que é um Angolano.


Como sempre foi declarado nas entrevistas para a Rádio e Imprensa pelo o falecido Presidente da UNITA, é considerado ANGOLANO:
1 - Preto, branco ou mestiço que tenha nascido em Angola e que lute para a concretização da independência Total de Angola e pela sua reconstrução harmoniosa.
2 - Todo o indivíduo radicado em Angola e que ame esta terra, contribuindo para a sua reconstrução Nacional como Estado Independente e Soberano.
3 - Todo o indivíduo que venha a adoptar Angola como Pátria, trabalhando para ela com todos os seus esforços materiais e espirituais que façam de Angola um exemplo de convívio, de progresso e de justiça social.
Viva a UNITA
a UNITA É O POVO
E unidos venceremos.

Meus amigos, meus irmãos!!!


Queridos amigos da Cananguena - Lundo - Gabela - Angola, será que por esta foto se recordão de mim? Tenho muita saudade de vocês! (Januário Chico, Paulino, Domingos Januário, Sabalo Hulo, Sabino, Teresa Quipenda, Isabel, etc. etc.) Será que estão vivos? Teem filhos, netos? Esta foto, dá pra reconhecer quem com voces cresceu? Um grande abraço deste que nunca vos esqueceu.

Queria ser selvagem


O titulo desta minha menssagem é a realidade do que sinto, do que gostaria de ser. "Selvagem", sim... Este sentimento que me invade a alma, deve-se ao facto de ter vivido 14 anos da minha vida, entre selvas e savanas em Angola.

Neste sistema, que teimam em chamar de "civilizacional" não tem lugar para o meu ser, para a minha alma. Aqui, neste sistema, onde sou obrigado a viver, sinto-me como um pássaro em gaiola, preso sem liberdade.

O mundo, dos chamados "civilizados", não tem lugar para mim. Neste lado, onde as habitações chegam a serem mais altas que as árvores, o chão do verde da natureza é substituido pelo negro do alcatrão ou cinzento do betão, e, as regras criadas pelos homems tiram-me a liberdade.

Naquele lado, perto dos meus 9 e 23 anos, vivi com a natureza. Vivi com os meus amigos de raça negra da selva e savana. Não necessitava-mos de dinheiro, porque o dinheiro não comprava nada e tinhamos tudo para sermos felizes.

Não eramos refens do relógio, não tinhamos e não precisavamos dele.

Sempre que os rapazes da minha idade iam á caça levavam-me com eles. E eu, mais um deles, ficavamos sentados em cima de uma grande lage de um pedragulho, de tantos que existiam no interior da selva, enquanto os outros caçavam.

Os seus pais tinham pequenas lavras, onde, maioritariamente, eram as mulheres quem com um sacho, que tinha um cabo com apenas trinta centimetros, debruçadas, com as crianças de tenra idade dormindo deitadas sobre o seu dorso e seguras por uma "tanga", iam cavando a terra o que não era preciso muita coisa visto que se tratava de terreno tufoso e fértil.

Ali plantavam batata-doce, mandioca, ananás, abacateiros, papaieiras, mamoeiros e bananeiras. Semeavam milho, feijão, massambála e amendoim (Jinguba). Todos tinham muitas árvores de frutos, mangueiras, abacateiros, bananeiras, goiabeiras, mamoeiros, papaieiras, pitangueiras, laranjeiras, fruta pinha (sap-sap) e tantos outros.

Na selva, tambem, havia muita e grande variedade de frutos e legumes que já nem me lembra do nome de tais, mas sei que eram muito gostosos e nutritivos, quando pensso neles ainda lhes sinto o gosto.

Quando o sol nascia, lá começava o despertador da selva a funcionar, com uma bela melodia de tons feitos pelas dezenas de variedades de raças de aves e o grito dos macacos, tabem, de várias raças.
Saía-se de casa, casas feitas de paus atados, forradas as paredes e cobertas com "capim" ou rama da palmeira, em algumas, nas paredes, era chapado barro com erva seca misturada para poder ter mais conssistencia. A primeira coisa a fazer-se, quando se saía, era defecar encostado a uma árvore por entre outros pequenos e grandes arbustos e capim ao som da selva. Depois dava-se um mergulho no largo rio que ali passava. Voltava-se a vestir os calções e, ou não, a t-shert. Regressava-se a casa no Kimbo (aldeia), enquanto se colhia lenha e se apanhavam alguns frutos que ao mesmo tempo se aproveitava para matar-o-bicho (pequeno almoço).

Ali, eramos livres como toda a selva o era!

Ali, não havia pressa para nada. Tambem não existiam tabus. Eramos todos naturais e vivia-se tal como os outros animais vivem no espaço livre e natural.

O ser humano tinha toda a liberdade que os outros animais selvagens têm. No que diz repeito ao acto de copular, funcionava tal como a natureza o criou. Tal como acontece com os outros animais e aves, praticava-se sempre que o homem e a mulher assim o desejassem. Claro que, não á vista de todos. Não importava a idade, o que importava era o desejo. Era, também, normal e natural verem-se raparigas com 13 ou 14 anos já mães. Se na mulher lhe vem a menstruação aos 12 ou 13 anos foi a natureza que assim o deliberou para que, a mesma, pudesse procriar. Se esse facto está errado, no chamado mundo civilizado, e só poderiam serem mães a partir dos 16 ou 18 anos, porque é que a menstruação lhes vem mais cedo? Tal, como o mundo "civilizado" defende, é que, o casamento ou união, a cópula, o procriar, deve ser feito só a partir da maior idade que, segundo eles, agora é aos 18 anos! Pergunto: -Etão porque é que o homem inicia a ejeculação e a mulher a menstruação mais cedo? Isto não é viver a vida com liberdade. Viver a vida com regras, não é ter liberdade.

Também, naquele povo onde vivi, não existia a regra ou complexo de a cópula ser praticada entre homem e mulher de idades próximas.

As regras, tabus, burocracias, corrupção do homem da chamada "civilização" eram desconhecidas do meu povo, o povo da verdade que me integrou na sua comunidade e me ensinou os segredos da selva.

O homem que vive no lado da chamada "civilização", principalmente os media, quando mostram os povos que vivem dentro daquelas selvas e savanas, longe deste manicómio, dizem que "eles vivem em extrema pobreza". Este raciocinio irrita-me! Pois eu digo que, quem vive na pobreza são os que vivem neste lado, no lado onde o humanismo não existe, e tudo fazem para adquirir coisas, e, até se intrometem no habitat dos que querem viver na paz da natureza. Estes sim... estes, do lado chamado "civilização", vivem em grande pobreza e loucura.
Ser selvagem é sr-se livre. Ser-se civilizado é viver-se refém de coisas, regras e leis.

Homens a imporem regras e leis sobre outros não tem cabimento!

Eu queria voltar a ser selvagem! Viver na selva! Não importa se na Amazónia, na Ásia ou em África, mas queria ser selvagem.



Se não foce o que sou, o que gostaria de ser?


Esta é uma pergunta, ou um raciocínio, que já passou pela massa cerebral de muita gente. Mas é uma coisa impossível de se poder escolher. Escolher, por nós, que genes devem formar o nosso ser. Mas se fosse possível, e me tivessem dado a escolher, escolheria ser da família dos primatas macacos, da raça Sagui.

E porquê ser macaco?

São várias as razões, centenas de razões, que me levam a sentir inveja da vida daqueles primatas. Viver na selva, saltar de ramo a ramo, de árvores de grandes portes, colher alimento sem ter que se preocupar em o produzir, a natureza se encarrega de o fazer existir. Vivem com a lei da natureza, nada lhes falta e são felizes.

A razão que me leva a pensar assim deve-se ao facto de ter feito uma análise ao que se tem passado entre os homens, durante toda a minha vida. Matam-se uns aos outros, por tudo e por nada. Invadem outros povos, sempre com intenção de lhes extorquirem coisas, umas vezes alegando que é pelo regime ali existente, enfim!

Mas pensemos apenas no que se tem passado no nosso país nos ultimos 15 anos, ora vejam estes casos: Casa Pia, Apito Dourado, Saco Azul, Face Oculta, etc. No campo de polémicas, que tem a ver com saúde e a nível mundial: Vacas Loucas, Lingua Azul, Grip das Aves, H1N1 (grip A), etc. Por amor de Deus! Já chega! Basta! leva-me a dizer como o outro: -"Quero voltar para a Ilha".

Eu tenho uma opinião formulada em torno das polémicas doenças e que tanto medo acaba por causar: Morrer, sempre se morreu, desde que há vida há morte, e, ninguem me vai convencer que à centenas de anos não existiam vacas loucas, lingua azul, grip em aves e a grip H1N1! Isto é polémico, gerado pelos orgãos de comunicação social e em colaboração com os laboratórios.

Tambem, no meu entender, o que é que me interessa se vou morrer com isto ou com aquilo! Morrer é morrer! Tambem dizem: -"É preciso prevenir, por isso é bom que se lance o alerta". No tempo dos meus avós, não havia alertas e, pouco ou nenhuma assistencia médica existia, se não se morresse de novo de velho não escapava, tal como agora. O mais certo é que já existiam essas doenças que hoje, para lançarem o pânico, lhes dão esses nomes.

Então o homem é o animal que mais mortes causa e depois tem medo de morrer!

Na outra encarnação quero ser Macaco ou Tarzam mas não fictício.


O SOFRIMENTO DAS MULHERES



É triste e revoltante o facto como algumas mulheres são tratadas. Como mãe ela dá amor, como esposa amor dá.


Por isso não posso compreender como é que a mulher seja tida, para com alguns homens, como sendo uma coisa ou um instrumento, dando-lhes maus-tratos, desde palavras ofensivas até à agressão física, ou tratando-as como escravas.


Mas, ainda, o mais revoltante e que desfas meu coração é a prática bárbara, em nome da tradição, da mutilação genital.


Como é que os Estados Unidos da América (USA) têm a ousadia de atacarem outros países, alegando que esses países não respeitam os direitos do homem, mas não se empenham em acabar com esta prática bárbara que existe em algumas tribos de África? De certeza que seria mais fácil e menos dispendioso, com resultados benéficos, investir no campo de assimilação e teriam muitos países a coligarem-se neste projecto.


Para quem não sabe, no que consiste a mutilação genital, ela consiste em ser retirado da vagina, com uma lâmina, o clitoris e toda a zona que o envolve e que são as zonas mais sensiveis do prazer sexual na mulher, impedindo assim que ela sinta prazer na prática sexual, e não conseguindo atingir o orgasmo.


Apsar do sofrimento horrendo pelas dores no momento da mutilação e que se prolongam por algumas semanas até cicratizar, foi-lhes retirado, para sempre, o direito de sentirem um prazer que lhes foi dado pela natureza e que lhes pertence.


Revolta-me ao imaginar o sofrimento a que estão sujeitas essas crianças. Com apenas sete ou oito anos, são levadas pelas mães, numa data já combinada, deixam-nas com outras mais crianças, junto de várias avós, e de seguida são levadas uma de cada vez para um local onde se encontram cinco mulheres já avós, quatro seguram a criança que fica deitada no chão de pernas abertas e o coração a bater forte. A quinta mulher pega na lâmina e começa a cortar enquanto a criança grita alucinadamente com dores insuportáveis. As outras que estão lá fora choram de medo porque de seguida vai mais uma delas.

Para alem desta intolerável e desumana tortura, aos 13 anos são obrigadas a casar com um homem da mesma casta e que lhes estava destinada, pelos seus progenitores, desde o dia que nascera.


Para todas as mulheres que sofrem, deixo aqui a minha solidariedade e peço a todos os homens que reconheçam que a mulher é superior a todas as coisas na terra e é dona do seu próprio corpo. Por isso, há que respeitalas e dar-lhes amor em troca ou não do mesmo.

Angola... Ambição proibida

Ningem tem a noção da tristeza que invade o meu coração! Não existe um só dia que não pense na terra que me adoptou como filho. Sinto falta de tudo! Da amizade, do cheiro, da temperatura, do nascer e por do sol, do som da selva, da chuva que quando cai faz sentir em nós o deseijo de nos expor-mos de baixo d'ela etc. Foi, também, graças á convivencia com o meu povo, na selva, savana e no Kimbo, que me levou a sentir um apaixonado por Angola e apesar de ser raça branca sentia-me negro por dentro.
A ambição, que nós sentiamos, era de vir a ter uma Angola, nosso país livre, independente e de direitos iguais na sociedade. Por isso, um dia, levado pelo fernesim da sociedade, onde vivia, alistei-me na UNITA como militante (ainda hoje guardo comigo, com grande estimação, o cartão de militante), porque, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, era um homem justo, social-democrata e inspirava, em nós, alto teor de confiança no futuro da nossa terra livre. Muito me custou e ainda hoje sofro por ter sido, como tantos, a abandonar a terra que tinha como o «berço que me viu nascer». No passado dia 14 de Setembro de 2008, de uma forma hipócrita, Eduardo Santos, presidente deste país nao eleito legalmente pelo povo mas sim pela força das armas e corrupção, acto este que fez com que a UNITA e Savimbi revoltarem-se contra esta ilegalidade e voltassem a regressar á guerra á mais de duas décadas. Em 2008, José Eduardo dos Santos, à décadas no poder, e por alguma pressão mundial, só para calar o povo, de uma forma hipócrita, aceitou que o povo foce a vótos, mas, mais uma , manipula a comissão que vai controlar as eleições para que seja ele novamente a ganhar o poder.

Não compreendo como é que Portugal, nos partidos, da esquerda à direita, todos elogiam a transparência das eleições angolanas, como se esta «esmagadora victória» do partido de José dos Santos há muitos anos não estava preparada, através da mão de ferro que controla a impresa (houve até, no passado, jornalistas detidos e órgãos de comunicação social portugueses que foram proíbidos de entrarem no paraíso angolano). É de desconfiar toda esta subservência a um regime que se suetém no poder á força, corrupção e tráfico de influências. Ou não soubéssemos nós de certos trunfos usados no passado para garantir este amplo e transparente reconhecimento «democrático». É muito triste!!! Tenho, para comigo, que 80% dos angolanos não tiveram acesso ao voto e que, 80% dos que votaram eram adeptos do MPLA, partido este, de José Eduardo dos Santos. Aquilo que os amantes pela pátria angolana ambicionavam, antes do 25 de Abril de 1974, foi por água a baixo! Se alguma vez, os filhos de Angola, tiveram alguma liberdade e igualdade social, foi antes da queda do fascismo em Portugal.

Este silencio das nações, em relação ás ultimas eleições, só me demonstram que, todos estão interessados na exploração das riquezas existentes naquele país e por isso aceitaram, com bons olhos, as eleições que, tal como todos viram, na própria capital, no dia do voto, ainda estavam à espera do material para o acto eleitoral. É triste, muito triste... mas se no passado as politicas dos países, ditos hoje democráticos, eram más, estamos a passar por coisas muito piores e desumanas. Lamento esta hipocrisia mundial!

SORRISO DE CRIANÇA


A Raça Humana

Não tem cor,

Tanto sorri O Branco

Como o negro sente dor.


II


Não me senti nada diferente

Por entre aquela gente,

Onde também salta Criança

Sorri e também se sente.


III


Criança daquele Mundo

Vivem sempre a sorrir,

São filhos de mulheres humildes

Que também SOFREM ao parir.


IV


Pegam num pedaço de pau

Com ele fazem um brinquedo,

Brincam na poeira e no capim

E não há nada que lhes meta medo.


V


Com eles eu cresci

Brinquei e me fiz homem,

Hoje distante, eu me encontro

Em meu coração elas dormem.

Raça Humana não tem cor

Este meu artigo é dedicado a um saudoso povo de raça negra, de Angola, com quem vivi e compartilhei muitos dos seus segredos e das suas coisas nas selvas e savanas.
Sentava-me dentro das suas casas, comia o "funge" (alimento muito gostoso feito de farinha de milho e/ou de mandioca), à mão molhando-o no delicioso conduto feito de rama de bata-doce ou da mandioca (kisaca ou calulu) com óleo de palma e, algumas vezes, misturado carne de gazela, javali ou peixe, todos eles secos ao sol.

Nesse mundo não havia fantasias, nem stress, nem iguísmo, nem ódio, nem ganância e nem se falava ou penssava na cólera ou palodismo (malária) que hoje fáz temer tanta gente.

Era o mundo perfeito... "o mundo real" com a sua própria cultura, que o mundo não tem ou não deveria ter o direito de a querer substituir.

Em Angola não conheci o chamado racismo. Nas escolas, hospitais, bares, empresas laborais, não havia discriminação. Os que frequentavam as escolas era brancos, negros, mulatos, mestiços e todos vestiam o mesmo uniforme. Na educação escolar, ou no socorro, na medicina, tanto poderia ser branco, mulato ou negro. Nas empresas havia muitos encarregados ou chéfes que eram negros. E nos bares, nas farras e nas praias conviviam todos com grande cumplicidade e sem preconceitos. Inclusive, existia já muitos casamentos entre as duas cores. Nos quartos e enfermarias dos hospitais estavam os doentes de ambas as cores deitados lado a lado. E quem visitava os seus familiares ou amigos, nos hospitais, não tinha de pagar nada para poder entrar, o que, segundo me contaram, aqui na metrópole, como lhe chamavamos, pagavam.

Não posso também deixar de mencionar que devo a vida a um negro que não conheci mas tenho pena de não o ter conhecido. Certo dia, quando eu tinha 18 anos, inesperadamente senti os meus pulmões a encharcarem-se de um liquido. Eu, já com falta de ar e a sofocar, tossi e à medida que tossia saía, constantemente, sangue em grande quantidade, até que desmaiei e fui transportado para o hospital da cidade próxima (Gabela) que distava cinquenta quilometros do local onde vivia.

Por coincidência ou ironia do destino, quando dei entrada no hospital, o médico que fazia ali trabalho era o mesmo da tropa. Como naquele tempo não havia sangue empacotado para transfusão, o médico tratou logo de ligar para o quartel e ver se havia algum militar com o sague compatível com o meu. Por acaso, e talvez por força da natureza, nesse dia tinha ficado de castigo no quartel um militar de raça negra. Esse militar tinha o mesmo tipo de sangue que eu. Nesse dia tiraram-lhe duas seringas de sangue e 2 vezes por semana lá voltava a oferecer-me a vida. Assim fui salvo. Depois de todo este sofrimento e ao cabo de algum tempo, acabei po melhorar, saír do hospital e voltar para junto do meu clã.

Retomei a minha vida no Kimbo (aldeia), com os meus amigos de raça negra, brincava, crescia e aprendia todos os segredos da selva, savana e a falar a sua lingua (Kimbundo). Era também com eles que ouvíamos as estações rádio que transmitiam muita música de cantores Angolanos e Cabo-Verdianos.

Muita gente dizia, e o Jonas Savimbi també disse nos seus comíssios que: "quem beber água do Bengo (rio angolano), não vai coseguir esquecer e vai sempre sentir saudades de Angola". Mas eu não fiquei apenas apegado a Angola somente pela água do Bengo, tambem foi pelo sangue que me fez retornar à vida.

De adolescente passei a homem, sempre deficiente motor, por isso era levado por eles, os meus amigos, pela selva e savana junto ao rio Nhia. Havia, em abundancia, frutos, legumes e carne. A carne, tanto poderia ser a que criavam como a que caçavam. Sentia-me um homem feliz, como todos os outros éramos livres... éramos a savana e a selva, e, a savana e a selva não tinham sentido sem nós. Cresci, e hoje distante ainda me sinto branco por fora mas negro por dentro.

O MEU CORAÇÃO FICOU LÁ


Apesar de ser o país mais rico de África, Angola é e vai continuar a ser o país com maior índice de extrema pobreza



Foi dificil, muito dificil! Sofri como jamais poderia imaginar! Depois do terror, das rajadas e dos morteiros 81, o sangue e os corpos amontoados de gente e animais, alguns, ainda fumegando, queimados pelas chamas que fizeram desaparecer milhares de habitações das aldeias (Kimbos) por onde fui obrigado a passar quando, por entre a selva e savana, fugia á morte.

Foi a 10 e 11 de Junho de 1975 em Angola na fuga do Amboim no Cuanza-Sul, da Cidade da Gabela para o planalto central "Huambo", na altura designada pela cidade de Nova Lisboa, onde ficámos durante 3 meses, enquanto esperávamos pelo voo nº 191 da ponte aérea para refugiados de guerra. Durante esse tempo, no centro da cidede, não tinhamos a noção do que se estava a passar nos arredores, apesar de a todo o momento se ouvir rajadas de metralhadoras e bazucas que assobiavam e logo de seguida arrebentavam fazendo estremecer toda a cidade.

Aquele povo, pobre e humilde, mas rico de fé e esperança, esperança de liberdade e igualdede, povo do Huambo e Bailundo, eram mortos pelos seus irmãos do norte apoiados pelo armamento bélico e militares cubanos. A guerra civil em Angola passou a fazer parte dos media. Os conflitos na região do Huambo eram de revolta em virtude da centralização à volta desta cidade das forças politicas armados de ambas as facções em luta. O êxedo de civis que fugiam da zona em busca de sobrevivência, alguns partiam de avião, outros, sem condições infrahumanas, buscavam a sobrevivência para os lados de Benguela. Os relatos, que me chegavam poucos anos depois, eram de catástrofe dadas as condições da fuga, da marcha de cerca de 400 km até Benguela e finalmente até ao Lobito. Ali se formou um campo de concentração com cerca de 20.000 pessoas. Os relatos de sobrevivência eram impressionantes, nomeadamente os relatos da travessia do rio Catumbela, rio este infestado de crocodilos e que eu conheci. Barrada a única ponte, pelos militares, a travessia era feita por cordas passadas de uma a outra margem. Histórias de mães e filhos que terão perecido nesta travessia eram de horror. Ninguém sabe quantificar quantas as vítimas do rio mesmo sendo sobreviventes da caminhada. A informação que me chegavam, a esses campos de concentração, novas vítimas deste êxedo ostentando as marcas da tragédia. Mulheres e homens que pareciam farrapos humanos. Crianças gravemente desnutridas. Com 10 anos pesando cerca de 12 kg. Segundo o meu amigo Domingos Januário com quem mantinha contacto nos anos 80 e que lutava do lado da Unita e que chegou a fazer escolta a esta gente até próximo do campo de concentração, só visto realmente, contado nem dá para acreditar, segundo ele.

Também, segundo um amigo meu do concelho de Soure, que por volta do ano 2001 foi para aquela terra fazer o que fazia cá, cultivo de arroz, a corrupção está sempre presente onde quer que estejam disponíveis bens alimentares para apoio a estas tragédias. Esse amigo já saiu de Angola em 2007 e foi implantar-se, no mesmo ramo, em Moçambique. Segundo ele, em Angola não há condições para se trabalhar com a certeza de que se vai colher. Depois de 7 anos de trabalho, ao semear para colher, quando estava a iniciar a recuperação do envestimento, foi surpreendido por dois homens que se apresentaram como sendo do governo e disseram-lhe: Tem 24 sobre 20. Ele perguntou o que é que queriam dizer com aquilo. Responderam: Tem 24 horas para abandonar o país e tem 20 klg de roupa para levar.

É assim, porque actualmente quem não for corrupto e colaborar com o governo não se safa, segundo ele. Trabalhar dentro da honéstidade está fora de questão. Em Moçambique já assim não é! Moçambique acolheu todos os que tiveram de abandonar o Zimbabwe por altura em que Roberto Mugabe excitou os trabalhadores e disponiblizou forças governamentais para correrem com todos os fazendeiros brancos e, todos que ali chegam (a Moçambique) com vontade de fazer progredir o país são bem recebidos e apoiados pelo governo.

Angola está condenada e apesar de ser o país mais rico de África, em termos de matérias primas, é e vai continuar a ser cada vez mais o país com maior índice de extrema pobreza.

Angola, terra que resistiu a todas as convulções com o preço elevado da parte humana continua a ser a terra linda que sempre foi e que me vai na alma. Nos ultimos dias da minha vida, o melhor que me poderia acontecer, seria acabá-los lá, em Angola. Naquela terra onde mesmo com fome sorriem e são afáveis. Naquela terra onde o cheiro, o calor, os sons e as paisagens invadem a minha alma. Foi da cidade de Nova Lisboa, actual Huambo, que parti. Enquanto o avião se deslocava da pista, senti uma dor tão grande porque o meu corpo era arrancado daquele solo mas o meu coração ficava lá.

A minha história


O dia acabara de nascer
Num lindo dia de Novembro,
Toda a aldeia estava agitada
Por algo que não me lembro.

II

Mas se é como contam
Dizem que foi uma alegria,
Pois acabara de nascer
Mais um filho à senhora Maria.

III

Zézito assim lhe chamam
Um menino de encantar,
Todos lhe punham o olho
Até deixar de caminhar.

IV

Andou aos nove meses
Aos vinte e dois paralizou,
Foi uma grande tormenta
Que minha mãe comigo passou.

V

Coitada todos os dias
Tinha que me transportar,
Assim me levava ao colo
Para onde ia trabalhar.

VI

Meu pai para nos governar
Para Angola emigrou,
Sabe-se lá o que esse homem
Em quatro anos por lá passou.

VII

No caminho por onde passo
Alguns espinhos tenho encontrado,
Mas enfrento todos os dramas
Não aceito ser derrotado.

VIII

Sou de personalidade forte
Não fora eu Sagitário,
Com a força que Deus me deu
Vou enfrentando o meu diário.

IX

Ao longo da minha vida
Muita amizade semeei,
Esta seara vou cultivando
Até ao dia que partirei.

X

Sinto-me feliz neste momento
Ao recordar o meu passado,
Aqueles que me forem fiéis
Quero-os sempre do meu lado.

quarta-feira, 17 de março de 2010

PARTE DO MEU TESTEMUNHO DO QUE PRESENCIEI EM ANGOLA


Antes do 25 de Abril de 1974

Se o combate libertador custou muito mais vidas do que deveria custar; se, na UNITA, MPLA e FNLA houve muitos mais mutilados, muitos mais órfãos, muitos mais desamparados do que deveria haver, isso nem sempre foi por causa da confrontação directa entre os patriotas e o colonialismo.
Infelizmente, a verdade é esta, também a luta fratricida entre Movimentos de Libertação – a luta fratricida, causou muito mais vítimas no próprio meio dos que estavam com a estes partidos. A divisão entre os três Movimentos de Libertação causou vítimas. E retardou a marcha para a independência. Porque, assinado a suspensão das hostilidades com o exército português, o nacionalismo encontrou-se confinado a áreas bastantes restritas. E por isso mesmo que, encontram dificuldades na mobilização de todo um povo, desejoso de se libertar, mas solicitado por ideologias, muitas vezes mais do que estranhamos, porque contrárias á verdadeira defesa dos seus interesses.
Se o nacionalismo angolano não tivesse embarcado tristemente na guerra fratricida, teriam, certamente, coberto todo o país. Angola tinha condições humanas e geográficas para fazer uma guerrilha em nível muito superior àquela que teve lugar noutras antigas colónias portuguesas, como por exemplo: -na Guiné em que parte do terreno era pantanoso.
Mas a divisão retardou esse passo, retardou essa marcha.
Portanto, engajados na descolonização do país, através da luta politica, temos a obrigação de nos lembrarmos dos nossos amigos mortos na guerra fratricida. Todos os dirigentes dos Movimentos têm obrigação de recordar os sacrifícios inúteis dos homens e nossos amigos, que se deram totalmente para que estes partidos sobrevivessem em busca da descolonização. Muitas vezes foram os da UNITA a darem ordens para o combate fratricida.
Ninguém pode negar, se for honesto, que a divisão foi motivo de vergonha no plano africano, foi motivo de humilhação no plano interno, para os que tinham confiança nos Movimentos de Libertação.
E foi, principalmente, por causa de motivos de hegemonismo sobre o nacionalismo angolano, que tiveram de suportar um combate longo… Essa intolerância existia porque todos gostariam de ser os únicos, os incontestados, possuidores do segredo máximo da libertação deste país e da verdade única, que se impusesse, não pela profundidade da sua própria análise e eficácia na condução da luta de libertação, mas pela força e pela violência.

Foi assim, que se perderam muitos dos nossos melhores amigos angolanos, negros, mestiços e brancos, combatentes nesta luta fratricida.
Depois, existiu uma apreensão justificada porque os movimentos de Libertação guerreavam-se, insultavam-se, faziam tiros. De Luanda a São Nicolau, do Lobito a Nova Lisboa, ainda os filhos de Angola morriam, em 1975, atingidos pelas balas dos outros nacionalistas. É um crime, é um crime. Não há nome possível capaz de definir claramente o encorajamento á guerra fratricida. E são criminosos aqueles que quiseram encorajar os filhos de Angola a morrerem outra vez atingidos pelas balas dos seus próprios irmãos. Não tem mensagem, nem justificação para um combate deste género.
Muitos diziam que a UNITA éra cobarde porque a sua moderação representa ausência de força. Não é verdade. Na UNITA existia a noção exacta da limitação da força. O maior, ou um dos maiores pensadores da nossa época e um dos maiores estrategas da guerra de guerrilhas, disse que, se o material bélico conta, o elemento decisivo é o homem. Se o aparato militar conta, se os canhões contam, se as HKs contam, ainda conta mais o Homem. É o elemento decisivo. Aquele que esteve a pensar na imposição da sua força através das armas, esteve a criar uma grande ilusão. O povo de Angola não esteve com ele. O povo de Angola já não queria guerra. O povo de Angola queria paz. O povo de Angola queria trabalho. O povo de Angola queria ordem.
Ninguém terá força suficiente para cair em cima do povo de Angola. O colonialismo português não foi capaz, através da alienação, através da dominação física do povo, de conseguir ficar nesta terra. Ninguém acredite na imposição da força em Angola. A não ser que quisesse fazer desta terra um cemitério.
Existem elementos europeus da nossa sociedade – que uns preferem chamar de etnia branca – que tiveram de partir. Nesse momento, partiram muitos e muitos indivíduos para Portugal e outros países para não padecerem no campo de batalha. Foi triste. Alguns tomaram uma posição oportunista de partirem para uma outra pátria e deixar que os outros construam aquilo que nós sempre quisemos chamar a nossa pátria, esta posição dúbia é uma posição que não pode merecer confiança por parte dos adeptos e militantes da UNITA e eu sou um deles. Aqueles que queriam Angola como pátria, nesse momento deviam ficar por lá para, em conjunto, resolver o problema de Angola. Aqueles que procuraram o conforto e a segurança noutras latitudes para depois, após terem resolvido os problemas, regressarem a Angola como angolanos, esses foram cobardes e são oportunistas. Eu, também fugi levado pelos meus pais. Mas não tinha outra escolha devido á minha deficiência não tinha meios como ficar e ajudar na reconstrução do país que aprendi a amar.
Felizmente, a posição criticada da UNITA – porque a UNITA estava ao serviço dos colonos… –, felizmente, todos os movimentos reiteraram esta posição. Ainda bem!
A UNITA, como sempre, continuava a receber cartas anónimas daqueles que os consideravam como agentes dos colonos. Há razões para acreditar que a verdadeira maioria honesta do povo Angolano estava de acordo com a UNITA.
(Houve aqueles que, não tendo conhecido o pai de Jonas Savimbi, que não tendo vivido com o seu pai nos seus últimos anos de calvário, disseram, á boca cheia, que a PIDE autorizava-o a ir da mata visitar o seu pai em Luanda. Malditos!
Mas também existem aqueles que viram seu pai na cadeia e, hoje, felizmente, tenho a consolação de saber, da parte dos mesmos algozes, que seu pai foi preso, simplesmente, porque teve a coragem de dizer á PIDE que, se o filho aparecesse em casa – porque eles também duvidavam, eles também procuraram saber se Savimbi ia ao Andulo mobilizar o povo –, porque seu pai teve a coragem de dizer: «Se o meu filho aparecer, não o posso prender e entregar á PIDE».
Isso foi o suficiente para ser preso. Essas palavras saíram da boca do presidente da Câmara do Bié. Portanto, se seu pai morreu porque afirmou á PIDE que, se o filho aparecesse em casa não o entregava, é porque seu pai era Patriota. E os que insultaram a memória de seu pai não são mais do que aqueles que, na hora da dificuldade, desertaram do nacionalismo e juntaram-se á PIDE onde fizeram a sua fortuna).
A justiça para verdadeiro democrata e angolano, consiste no seguinte: o primeiro toma consciência da sua opressão e luta para conseguir os seus direitos; o privilegiado reconhece que foi privilegiado e aceita abandonar a arrogância e coloca-se ao nível do mais oprimido e do mais humilde. O contrário, ou seja, o privilegiado passar a ser democrata, para continuar a viver em sofisma, é uma contra-revolução!
Gostaríamos que esses democratas fossem confrontados com a população duma sanzala, para vermos como essa população «defende» esses democratas… eu sei bem, vivi lá.
Afinal, se a UNITA esteve a defender os mais oprimidos, a justiça social, primeiro envidemos todos os esforços para que os mais oprimidos tenham uma situação condigna. Os que tinham posições privilegiadas – os senhores democratas – teriam de sacrificar parte dos seus privilégios em benefício da comunidade. E com o tempo teria de se acertarem as agulhas. Mas sempre tendo, por norte, o humanismo.
Nessa angolanização devia-se ter em consideração a eficacidade, a competência, nos trabalhos administrativos. Senão, Angola iria sofrer um recuo! Se colocarem indivíduos só por causa da filiação politica e partidária, sem terem em consideração a sua capacidade de produção, isso seria errado. A angolanização ou a africanização são aspectos justificados.
Se pode ser Angolano, se é angolano o preto, o branco e o mestiço – quem quiser ser de Angola – não há nenhum aspecto discriminatório nesta angolanização dos quadros. Mas haveremos de ter sempre em conta a competência e a aficacidade dos serviços. Só assim é que ganha alguma coisa com esta operação. Mas, enquanto fizerem uma operação de fachada e o nível de produção diminuir tremendamente, nem aqueles quadros com capacidade poderão transmitir esses conhecimentos aos outros, nem estes poderão dar a sua contribuição a Angola. Tudo tem a sua medida!
Só o fanatismo e a ganância é que não é aconselhável para o bom desenvolvimento de Angola.
Agora desenvolveram mais as prepotências daquelas que mandam!
Pois sim! Eu sei. Deveriam rectificar. Deveriam educar.
A reeducação deveria fazer-se a todos os níveis.
O 25 de Abril não pode, magicamente, resolver todas as injustiças!
Há situações mais urgentes que clamam por uma solução rápida e imediata. Há situações que devem evoluir.
A UNITA tentou por todos os meios dar o seu apoio incondicional ao Governo de Transição e todo o seu apoio ao Alto-Comissário de Portugal em Angola, general Silva Cardoso. Era considerado um homem equilibrado e imparcial. O Governo de Transição poderia contar com todo o esforço, por parte da UNITA, para que esse governo continuasse a trabalhar, mas não, acabou por falhar e desistir, entregando o poder para a mão do MPLA apoiado pelos Cubanos mergulhando assim num mar de sangue onde desde o 25 de Abril de 1974 até 2002 ficaram nos campos de batalhas milhões de mortos e milhares de mutilados e órfãos, mais mortos do que em todo o tempo de colonização.
Os religiosos tinham e sempre terão lugar nesta Angola de sempre! Porque a sua palavra, na hora de dúvida e de incerteza, leva até aos incrédulos a Fé num futuro melhor e mais justo para todos. O povo angolano sempre foi crente nos Deuses que as religiões apregoam.
“Em serto comício no Andulo Savimbi disse: -Os técnicos que quisessem cooperar e aceitar a nova politica, que queira admitir que a arrogância e a resultante das prerrogativas da burguesia nacional devem acabar, e que desejem trabalhar para o povo, teriam lugar neste país.
Angola, felizmente, é uma terra portentosa. Aquele que não quiser viver em Angola, mas que bebeu água de Angola, para onde for, será infeliz.
Lembrar-se-á sempre desta Pátria bela e rica. Mas quem quiser ficar, esta Pátria abrirá os braços para os proteger”.Assim dizia Savimbi nos comícios que ouvi na rádio. E eu sou um dos que bebeu água de Angola, “água do Bengo” e por isso nunca mais me senti feliz. Estou longe mas o meu coração está sempre lá. Amo Angola...