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Musica

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Eu sou branco por fora mas sinto-me negro por dentro.





Com os meus amigos aprendi e acompanhei os seus rituais, a falar Humbundo e a comer à mão o Funge (pirão) com kuizaca da rama de mandioca, calúlú de rama de batata-doce, quiabos, gimboa, beringelas etc. etc.
Sentia-me um jovem feliz, como todos os outros, éramos livres… éramos a savana e a selva, e, a savana e a selva não tinham sentido sem nós.
De adolescente passei a homem, sempre deficiente, por isso era levado por eles pela savana ou selva junto ao rio.
Alimento não faltava, havia muita fruta tropical: banana, ananás, abacate, manga, goiabas, mamão, papaia e outros.
Caçavam Javali, Impalas, Pacaça, Palanca, Nuche, Veados e até Kuitas (género de um rato do tamanho de um coelho). Comia-se a carne fresca, mas a maior parte era colocada a secar. Cozinhava-se, essa carne, com óleo de palma misturada, umas vezes sim outras não, com rama de batata-doce ou da mandioca.
Plantavam batata-doce, mandioca e semeavam milho.
As mulheres, para fazerem farinha do milho, sentavam-se sobre uma grande laje ou num pilão, como já falei num outro artigo.
Ai que saudades eu sinto destes sabores! Dos sabores… do cheiro, do clima tropical, da chuva quente, de sentir a terra vermelha nas solas dos pés, do chilrear dos pássaros, dos gritos dos macacos, do roncar do javali e da onça (gato do tamanho de um cão grande parecido com um leopardo e muito perigoso), saudades de ouvir e ver as quedas de água (cachoeiras) do rio, onde se formava um arco – íris sobre as partículas de água que se projectavam no ar em forma de nevoeiro. Saudades do nascer e por do Sol. Saudades, mas muitas saudades, dos meus colegas e amigos a quem ensinei a ler e a escrever.
Ali não havia pressa para nada. Não precisávamos de relógio. Comia-se quando se tinha vontade.
Dançava-se Kizomba nas clareiras, em frente das casas, por baixo das copas de grandes árvores.
Nos fins-de-semana à noite havia farra, kizomba, ao som de instrumentos, berimbau, batuque, réco-réco, construídos pelos próprios músicos. Até latas serviam para criar sons e dançar toda a noite. Mas, a maior parte das vezes, era eu que com um gira-discos, tocado a pilhas e que tinha duas colunas, passava musica da Rebita. Assim ficavam todos abanando o matáco nessa grande farra que se prolongava pela noite dentro na minha sanzala (Libata).
São tantas as saudades que tenho dessas grandes farras na minha idade dos 15 aos 22 anos, onde o ambiente era de pura felicidade e todos iguais.
Não havia preconceitos e dançavam eroticamente, numa grande clareira onde a luz era dada por uma grande fogueira. Aquele era o verdadeiro mundo criado por Deus. Todo aquele povo era um povo humilde e nos sentia-mos irmãos.

1 comentário:

  1. Tanto sentimento, tanta saudade, assim deve ser o coração e amente de um verdadeiro poeta, alguém que tem sentimentos, sangue nas veias, amor no coração. Espere, meu caro José, coisas acontecerão que trarão de volta o que mereces.

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