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quarta-feira, 21 de julho de 2010

"Exploração" não por serem colonizados

Era assim... em frente de uma casa de branco! Diferentes em cor, mas todos iguais.

Naquele lugar paradisíaco, na fazenda de café de Mário Cunha, nos morros do Amboim, fronteira com a CADA e perto das Salinas, estava no jardim de Edan. Nas redondezas, os fazendeiros transportavam o café, e outros produtos, em camionetas, pois nesse tempo já haviam algumas mas a gasolina, como por exemplo: a Ford, Dodge, Chevrolé, Gmc etc. Esses carros eram muito lentos e consumiam muito combustível, mas nessa altura era um luxo.
Nessa época a agricultura que se fazia em outras fazendas era a chamada "agricultura pobre", as sementeiras que se fazia era milho, batata, feijão, arroz, ela mais longe, para os lados de Dala Cachibo, algodão e sisal. O arroz ainda era o produto que mais compensava cultivar porque era o mais rentável, todas as sementeiras eram feitas manualmente, portanto a base principal das receitas era sem dúvida a moagem e produção de café. Na fazenda havia muitos trabalhadores negros, que nessa época trabalhavam de sol a sol nos diversos trabalhos da lavoura, mas muito ou pouco, todos recebiam o seu salário ao fim do mês em dinheiro ou em mercadorias, porque isso eu sei que era assim. Mas esse método “de sol a sol” é bom lembrar não era exclusivo só em Angola, o preto não era explorado pelo branco só pelo facto de ser preto... pois nessa época em Portugal como os idosos testemunham! Passava-se o mesmo, (falo apenas e exclusivamente da zona onde vivo actualmente), também se trabalhava para os mais abastados ou seja para os ricos... também de sol a sol, e alguns com a agravante de nem salário ter! Apenas e simplesmente por uma malga de caldo, e ainda por vezes era preciso pedir aos senhores do dinheiro por favor para lhes dar trabalho: assim como também havia muitos filhos de pais incógnitos porque os “senhores” abusavam das raparigas e depois não queriam dar a cara, sei que é verdade porque é contado pelos idosos desse tempo, ainda há alguns vivos que contam essas histórias, que também passaram por isso. Portanto, tanto lá, como cá, a exploração era quase idêntica, lá era o “preto” o explorado, mas em Portugal era o “branco”, mas é claro que a muitos só interessa falar dos colonos. Tudo isso apenas se deve ao regime de ditadura que se atravessou nessa altura que era precisamente o mesmo, aqui em Portugal eram os ricos os protegidos e faziam tudo o que queriam, e em Angola eram os brancos da Altura não nego. O meu Pai trabalhava na fazenda como encarregado, só 8 anos depois fez a sua própria fazenda com uma loja comercial onde se vendia de tudo que era consumido na região. O negócio, nessa época, em virtude de não haver dinheiro “vivo”, era todo feito à base de trocas: por exemplo… os nativos traziam para negociar, milho, feijão, amendoins, mandioca, e até galinhas, cabritos, ovos, etc. E então trocavam os seus produtos por tecidos que nós lá chamávamos "tangas", ou por produtos para alimentação, como o peixe seco, óleo de palma, sal, vinho, ou ainda por roupas para homem, "quimonos" para mulher, e muitas quinquilharias que havia à venda. Dinheiro em nota ou moeda havia muito pouco e não circulava, era escasso. A loja além do negócio servia também para abastecer o pessoal trabalhador da fazenda, portanto conforme as necessidades de cada um, iam levando as mercadorias a crédito, que depois lhes eram descontadas no fim do mês no ordenado.
Como havia muita falta de dinheiro, (era no tempo que em Portugal era uma sardinha para três) e porque o negócio era quase todo feito a base de trocas, então durante alguns anos era assim… se por acaso não houvesse dinheiro ou mercadorias pretendidas pelo trabalhador, o saldo credor que alguém tivesse, era-lhes passado um “vale”, que era um bilhete onde estava o dito saldo credor assinado pelo patrão: mas só tinha validade na sua própria loja. Chamava-se então a esse “vale”... “Mucanda”. Esse sistema também era para os não trabalhadores e mesmo até para alguns brancos como prova de dívida. Este é mais um das minhas recordações do que vivi na minha infância, adolescência e já homem. Era um sistema que estava implantado em tudo o sítio que se considerava “Portugal”.

13 comentários:

  1. Querido amigo, como é bom passar por aqui, tem sempre coisa boa de se ler.
    Com mais essa postagem nos dá uma verdadeira aula, estou conhecendo Angola pouco a pouco através de seu blog...Obrigada José!
    Um grande abraço! Beijos...

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  2. José, voltei para dizer que o slide ficou lindo, as imagens são belíssimas, tens mil motivos para amar e ter tanta saudade desta terra que te adotou como filho.
    Parabéns José!
    Abraços e beijos!

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  3. Histórias tristes, José, mas que se faz necessária a lembrança para que os atuais saibam tudo o que se passou.

    Bjs no coração!

    Nilce

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  4. A gente lê o seu texto e fica parecendo que está lendo um relato do Brasil. O pior é que aqui é assim até os dias de hoje. Basta andar pelo interior do país para constatar esta realidade e algumas até piores. Abraços, José. Paz e bem.

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  5. A Angola que tanto amamos está no lugar mais fundo de nós.

    De vez em quando ou muitas vezes vem à superfície simplesmente porque faz parte de nós, que a respirámos...

    Beijo

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  6. Mais um texto Fabuloso.

    Parabéns José.

    Abraço.

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  7. Triste realidade. Acontece conosco também, no Brasil. Vim retribuir sua visita ao Arca. Será sempre muito bem recebido. Grata. Grande abraço.

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  8. Pois é José,as lembranças marcam e ficam,mas tem seus pontos positivos como faz bem voce, nos colocando de frente para a historia.Tenho lido alguns colegas das regioes menos favorecidas e vejo que nada mudou.Anos se passaram e a cantiga é a mesma.Sempre minha admiração,porque voltar é preciso.

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  9. È Jose´´e suas lembranças são escritas de uma maneira tão real, que até parece que estava com você.
    Nara de uma maneira unica e muito pura. Com carinho MOnica

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  10. Mano como vai isso?
    Voce´me traio como é que o seu blog ta tão lindo assim
    Olha por favor quero aprender fazer este video de inicio com imagens girando e o cursor com meu nome por favor cota

    Abraços muito forte

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  11. Olá amigo, lembranças de outros tempos que por vezes deixam saudade. Esse amor com que fala de África é de louvar meu amigo. Quando se ama ama-se mesmo. Beijo meu

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  12. José, o que importa é viver bem, pois muitas vezes, os supostos ricos vivem de aparência e sem felicidade...

    Fique com Deus, menino Jose Sousa.
    Um abraço.

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  13. José Feliz dia dos pais para os papais de sua familia
    com carinho MOnica

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