Em Angola, o engajamento da sociedade civil é essencial para se alcançar um mínimo de transparência e responsabilidade governamentais, numa altura em que se regista um “boom” nas
receitas petrolíferas e persiste a incerteza relativamente ao processo eleitoral. Angola não conhece
eleições desde 1992, e com as elevadas receitas petrolíferas esperadas, a sociedade civil e a
comunidade internacional são as únicas forças capazes de exercerem influência e pressão sobre o
governo para demonstrar o adequado respeito pelos direitos humanos e redistribuir as receitas dos
recursos minerais.
Sem eleições há quase 15 anos, o canal para os cidadãos expressarem as suas preferências
de políticas por meio das eleições está bloqueado. O Governo de Angola não está a ser
responsabilizado por meio de eleições. Por isso, os cidadãos angolanos possuem poucos meios para
expressar as suas preferências de política, excepto, através das organizações da sociedade civil, os
meios de comunicação social e a acção directa. A sociedade civil em Angola deve estabelecer e
defender os seus direitos ao conhecimento e supervisão (incluindo acesso à informação), e a
defender os seus direitos à organização como meio de participação popular, de consulta e de
opinião. A sociedade civil tem um papel importante a desempenhar para se estabelecer um mínimo
de transparência e responsabilidade nos assuntos de interesse público em Angola.
De acordo com o recente relatório dos Direitos Humanos elaborado pelo Departamento de
Estado Norte-Americano (2006), existem actualmente mais de 100 ONGs internacionais e
aproximadamente 350 ONGs nacionais a trabalhar em Angola. Segundo um recente directório de
ONGs elaborado pela Unidade Técnica de Coordenação da Ajuda Humanitária (UTCAH), existem
97 organizações internacionais, 78 nacionais e 15 organizações religiosas (UTCAH 2006). Existem
provavelmente mais ONGs nacionais a trabalhar, particularmente a nível local, e as ONGs listadas
podem até ser insignificantes e inoperativas.
Apesar dos números, foi apenas em princípios de 1990 que a sociedade civil se tornou um
factor com significado político, quando a longa história do regime autoritário do partido único
conheceu alguma forma de moderação na primeira abertura democrática de Angola. Ainda assim, a
não realização de eleições, a dominação do partido único, um legado histórico do regime socialista,
e o actual ímpeto da elite no poder de deter o pleno controlo das receitas dos recursos naturais,
constituem factores limitativos para a organização da sociedade civil.
O objectivo primário deste relatório consiste em desenvolver um entendimento do papel
político das organizações da sociedade civil na Angola contemporânea. Analisaremos mais
especificamente o papel que a sociedade civil pode desempenhar para influenciar a favor da
transparência e da prestação de contas na gestão das finanças públicas, ou, por outras palavras,
como a sociedade civil pode contribuir para a transparência, responsabilidade e gestão adequada da
riqueza mineral de Angola em crescimento rápido.
Neste estudo analisamos principalmente as organizações da sociedade civil com o foco nas
políticas das receitas petrolíferas em Angola, no sector petrolífero e na programação e execução do
orçamento numa perspectiva de combate à pobreza. Em que medida as organizações da sociedade
civil em Angola têm um interesse real e potencial em, e influência sobre, políticas e processos de
receitas e de orçamento do Governo? Esta é a questão dos “milhões desaparecidos”, da tributação e
receitas dos sectores minerais (principalmente petróleo, gás e diamantes), da gestão das finanças
públicas das receitas do petróleo e outras receitas minerais, do próprio processo do orçamento, da
redistribuição e orçamentação do combate à pobreza, a implementação da política financeira, e a
transparência e a responsabilidade social corporativa das empresas internacionais que operam em
Angola.
Um segundo e mais amplo objectivo deste relatório consiste em desenvolver um
entendimento das forças e actores que podem, eventualmente, contribuir para uma melhor
RELATÓRIO CMI SOCIEDADE CIVIL EM ANGOLA R 2007: 8
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governação em Angola, incluindo mais transparência nas questões públicas e maior
responsabilidade na prestação de contas por parte dos funcionários públicos e dos detentores de
cargos eleitos. Esta perspectiva mais ampla visa identificar e categorizar as organizações existentes
e as OSCs engajadas em (ou com um potencial para influenciar a favor de) boa governação e
prestação de contas em Angola, incluindo os direitos humanos básicos, a transparência, voz e
participação, tanto a nível central como local. Este objectivo mais amplo incluirá consequentemente
alguma avaliação da potencial oposição à elite no poder em Angola, e lançar alguma luz sobre o
papel da sociedade civil como um agente de mudança no processo da democratização em Angola.
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